Sabemos que a internet já possui algumas
décadas de existência na vida cotidiana da maioria da população. Seus usos são
variados, desde o corriqueiro correio eletrônico até a vivência em redes
sociais atuais das mais variadas.
Em Educação e Ensino, seu uso também se
estendeu em vários formatos, desde a simples leitura de textos cotidianos até o
de densos livros, passando por vídeos que hoje podem ser acessados por uma
ampla massa de indivíduos, além dos também populares blogs.
Segundo MORAN (1995):
A
internet é a mesma de sempre, desde a sua criação, o que mudou, com o passar
dos anos, foi que ela se tornou mais disponível e com mais recursos para as pessoas,
sendo possível criar várias formas de utilizá-la e diversos usos para essa
ferramenta, e mudou ainda a definição de tempo e espaço (MORAN, 1995)
Mas, para Educação e Ensino, pesquisadores
e programadores de sistemas desenvolveram formatos
específicos e estruturados de transmissão de conteúdos e desenvolvimento de
habilidades, via internet. Isso ocorreu com a criação dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, ambientes estruturados com
ferramentas específicas a partir de objetivos específicos de ensino e
aprendizagem.
O Moodle
é um desses ambientes, ou plataformas, que permitem a execução de um Projeto Pedagógico
de ensino-aprendizagem por meio da interação entre alunos e professores.
Nesse
pequeno artigo, apresentaremos os preâmbulos desse ambiente no contexto do
crescente acesso dos indivíduos à internet.
Moodle
é a forma reduzida da expressão em língua inglesa “Modular Object-Oriented
Dynamic Learning Environment”, que traduzia para a língua portuguesa significa “Ambiente
de Aprendizagem Dinâmico Orientado a Objetos Modulares”.
Trata-se
da plataforma mais usada para a construção de Ambientes Virtuais de
Aprendizagem em todo o planeta. Levantamento publicado pelo Estúdio Site em 2017, indicava que havia
83.674 domínios registrados em 233 países com uso do Moodle.
O
grande diferencial do Moodle, para
além de suas funcionalidades adequadas ao Ensino a Distância e das diversas
ferramentas que ele oferece, é o fato de seu código ser aberto, open-source, ou seja: não há taxas de
licenciamento e o construtor da plataforma pode alterar seu código sem ferir
nenhum tipo de contrato ou política de software. Além disso, ele pode ser
construído em qualquer idioma. (Estúdio Site, 2017)
O
Moodle pode ser utilizado para
diversos projetos de ensino-aprendizagem, desde um curso básico de inglês ou um
curso de marcenaria até um curso de pós-graduação em uma Universidade.
Considerando
as características da geração Y, indivíduos que nasceram no final do século XX
e que, em sua maioria, habitam
ambientes urbanos e estão conectados com a internet e suas novas ferramentas e
linguagens, trata-se de pensar e projetar formas de utilização dessas novas
tecnologias disponíveis para ampliar as possibilidades de aprendizagem. Nesse
sentido, o Moodle é uma ferramenta
de boa qualidade.
O
que importa, realmente, do ponto de vista didático e pedagógico, na construção
de um Ambiente Virtual de Aprendizagem? Importa que se garanta que os conteúdos
estejam acessíveis, tais como o programa do curso, texto didático, podcasts,
vídeos, acesso à bibliotecas virtuais e relatórios de acesso ao ambiente, por
exemplo. Todas essas ferramentas estão disponíveis para serem customizadas no Moodle.
Mais
do que isso, a plataforma deve permitir o fundamento
que garante a qualidade de qualquer
Ambiente Virtual de Aprendizagem: a interação
entre professores e alunos. Nesse sentido, destacam-se as ferramentas possíveis
de serem customizadas no Moodle,
tais como os chats de bate-papo, os fóruns de discussões sobre temas relevantes
para os objetivos do projeto pedagógico e das disciplinas, mensagens diretas
aos professores e coordenadores, diálogo com a Secretaria Escolar e com o
Departamento Financeiro, entre outros.
Segundo
COSTA (2014), alguns pressupostos técnicos podem ser destacados para um
Ambiente Virtual de Aprendizagem construído com uso do Moodle, tais como acesso protegido e gerenciamento de perfis de
usuário, gestão do acesso aos conteúdos e atividades, ferramentas de
comunicação síncronas e assíncronas, sistema de controle de atividades dos
alunos.
Essa
autora busca outras fontes para entender as várias categorias de usuários, que
são cinco:
·
o administrador: gestão da
execução da plataforma;
·
o criador de
cursos:
criação, configuração, cadastramento e administração dos cursos dentro da
plataforma;
·
o professor: inserção de conteúdos
e atividades, correção e saneamento de dúvidas;
·
o aluno: o estudante
que usa os recursos da plataforma e
·
os visitantes: são os que
acessam a plataforma para visualização.
Experiências
de uso do Moodle existem em grande
quantidade ao redor do planeta, mas nesse artigo apresentaremos a experiência vivenciada
na Universidade Federal de São Paulo em três cursos de especialização, segundo
estudo feito por MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015).
Entre
os objetivos da pesquisa, salientamos a busca de referências sobre os
instrumentos de aprendizagem mais usados pelos estudantes. O Quadro
1, abaixo mostra as ferramentas disponíveis pelo padrão do Moodle.
Fonte: MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e
OLIVEIRA (2015)
Estudando os três cursos de especialização oferecidos pela Universidade Federal de São Paulo, os autores, por meio de ferramentas construídas para os propósitos da pesquisa, produziram um levantamento das ferramentas mais usadas pelos usuários.
A
Figura 1 e a Tabela 2 mostram o percentual de ferramentas utilizadas nos três
cursos da amostragem, por tipo de objetivo pedagógico. Na Figura 1, os três gráficos menores mostram os percentuais
individuais de cada curso, e o gráfico maior mostra a totalização.
Fonte:
MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015)
(CECPN): Especialização
em Cuidado Pré—Natal. (EIS): Especialização em Informática em Saúde. (MPNorte):
Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde para a Região Norte do
Brasil.
Fonte: MAGNAGNAGNOI,
RAMOSI e OLIVEIRA (2015)
A
Tabela 2 e a Figura 1 mostram, respectivamente, a soma das ferramentas e os respectivos
percentuais de uso por tipo de objetivo pedagógico nos três cursos da
amostragem. O tipo mais utilizado, com 79% do total, foi a que tem por objetivo
a Transferência de Informação,
seguidas pelas ferramentas do tipo Avaliação da Aprendizagem, que somaram 11%
do total das utilizadas nos cursos. As ferramentas do tipo Comunicação e
Interação somaram 8%, e, por último, as ferramentas do tipo Criação de Conteúdo
em Colaboração representaram 2% das empregadas na oferta dos três cursos da
amostra de pesquisa. (MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA,(2015).
Segundo
os pesquisadores, a ferramenta mais utilizada pelos estudantes foi o que eles
denominaram “links para algum tipo de conteúdo”, enquanto que os instrumentos
de avaliação foram acessados em proporção oito (8) vezes menos. A questão que
se levanta é: as avaliações abordaram todo o conteúdo acessado em forma de
“links para algum tipo de conteúdo”? Conteúdos adicionais acessados pelos
estudantes foram avaliados?
Pesquisadores
estão observando que Ambientes Virtuais de Aprendizagem estão sendo usados como
simples depósitos de materiais, o que é, do ponto de vista da aprendizagem, um
problema, visto que a simples disponibilização de conteúdos (sejam eles em
forma de textos em HTML ou PDF, vídeos ou quaisquer outros formatos), não
garantem o equilíbrio entre ensino síncrono e assíncrono, o que por
consequência, reduz a interação entre professores e alunos.
A
subutilização do Ambiente Virtual de Aprendizagem é evidente, em especial no
que se diz respeito ao uso das ferramentas que permitem a interação síncrona
entre professores e alunos. Mesmo a interação pelos fóruns é assíncrona pela
sua natureza, visto que os estudantes podem comentar as questões enviadas pelos
professores a qualquer momento.
Ensino à Distância e uso de plataformas construídas a partir da arquitetura oferecida pelo Moodle são fundamentais para as novas gerações de estudantes e formação dos profissionais do futuro, mas é preciso refletir sobre o caráter humano das ações dentro da plataforma.
Construir
Ambientes Virtuais de Aprendizagem com um número significativo de ferramentas
de aprendizagem sem pactuar, entre os membros da comunidade escolar (gestores,
professores e estudantes), horários específicos de interação síncrona pode
acarretar numa consequência inadequada: transformar a plataforma de Ensino à
Distância num mero depósito de materiais didáticos e de conteúdos esparsos,
cuja absorção, em termos de aprendizagem dificilmente será avaliada de forma
adequada.
A
depender do Projeto Pedagógico construído e projetado pela instituição de
ensino, é possível defender a tese de que uma carga maior de materiais
depositados e acessados pelos estudantes seja legítima, visto que o próprio
Projeto Pedagógico deve ter autonomia para isso.
Porém,
a depender da faixa etária sobre a qual estará atuando o Projeto Pedagógico e o
nível de ensino a que propõe, a interação
é imperiosa. Essa necessidade está presente, de forma sólida e
inquestionável, nas propostas de Blended
Learning para o Ensino Básico, defendidas por muitos autores, para os quais
não é possível postar conteúdos prontos para estudantes que ainda estão em fase
de desenvolvimento de habilidade básicas, tais como as do raciocínio matemático,
o desenvolvimento do domínio das habilidades linguísticas e as do raciocínio
lógico dedutivo.
Para
determinados níveis de ensino, interação,
colaboração e construção coletiva do conhecimento são fundamentos de qualquer
Projeto Pedagógico que objetive desenvolver a autonomia intelectual dos
estudantes. Não é suficiente que o
Ambiente Virtual de Aprendizagem disponibilize as ferramentas de interação
entre estudantes e professores; é preciso que elas sejam, de fato, utilizadas e
avaliadas.
REFERÊNCIAS
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