sábado, 25 de julho de 2020

A PLATAFORMA MOODLE E SEU USO NO ENSINO

Sabemos que a internet já possui algumas décadas de existência na vida cotidiana da maioria da população. Seus usos são variados, desde o corriqueiro correio eletrônico até a vivência em redes sociais atuais das mais variadas.

Em Educação e Ensino, seu uso também se estendeu em vários formatos, desde a simples leitura de textos cotidianos até o de densos livros, passando por vídeos que hoje podem ser acessados por uma ampla massa de indivíduos, além dos também populares blogs.

Segundo MORAN (1995):

A internet é a mesma de sempre, desde a sua criação, o que mudou, com o passar dos anos, foi que ela se tornou mais disponível e com mais recursos para as pessoas, sendo possível criar várias formas de utilizá-la e diversos usos para essa ferramenta, e mudou ainda a definição de tempo e espaço (MORAN, 1995)

Mas, para Educação e Ensino, pesquisadores e programadores de sistemas desenvolveram formatos específicos e estruturados de transmissão de conteúdos e desenvolvimento de habilidades, via internet. Isso ocorreu com a criação dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, ambientes estruturados com ferramentas específicas a partir de objetivos específicos de ensino e aprendizagem.

O Moodle é um desses ambientes, ou plataformas, que permitem a execução de um Projeto Pedagógico de ensino-aprendizagem por meio da interação entre alunos e professores.

Nesse pequeno artigo, apresentaremos os preâmbulos desse ambiente no contexto do crescente acesso dos indivíduos à internet.

Moodle é a forma reduzida da expressão em língua inglesa “Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment”, que traduzia para a língua portuguesa significa “Ambiente de Aprendizagem Dinâmico Orientado a Objetos Modulares”.

Trata-se da plataforma mais usada para a construção de Ambientes Virtuais de Aprendizagem em todo o planeta. Levantamento publicado pelo Estúdio Site em 2017, indicava que havia 83.674 domínios registrados em 233 países com uso do Moodle.

O grande diferencial do Moodle, para além de suas funcionalidades adequadas ao Ensino a Distância e das diversas ferramentas que ele oferece, é o fato de seu código ser aberto, open-source, ou seja: não há taxas de licenciamento e o construtor da plataforma pode alterar seu código sem ferir nenhum tipo de contrato ou política de software. Além disso, ele pode ser construído em qualquer idioma. (Estúdio Site, 2017)

O Moodle pode ser utilizado para diversos projetos de ensino-aprendizagem, desde um curso básico de inglês ou um curso de marcenaria até um curso de pós-graduação em uma Universidade.

Considerando as características da geração Y, indivíduos que nasceram no final do século XX e que, em sua maioria, habitam ambientes urbanos e estão conectados com a internet e suas novas ferramentas e linguagens, trata-se de pensar e projetar formas de utilização dessas novas tecnologias disponíveis para ampliar as possibilidades de aprendizagem. Nesse sentido, o Moodle é uma ferramenta de boa qualidade.

O que importa, realmente, do ponto de vista didático e pedagógico, na construção de um Ambiente Virtual de Aprendizagem? Importa que se garanta que os conteúdos estejam acessíveis, tais como o programa do curso, texto didático, podcasts, vídeos, acesso à bibliotecas virtuais e relatórios de acesso ao ambiente, por exemplo. Todas essas ferramentas estão disponíveis para serem customizadas no Moodle.

Mais do que isso, a plataforma deve permitir o fundamento que garante a qualidade de qualquer Ambiente Virtual de Aprendizagem: a interação entre professores e alunos. Nesse sentido, destacam-se as ferramentas possíveis de serem customizadas no Moodle, tais como os chats de bate-papo, os fóruns de discussões sobre temas relevantes para os objetivos do projeto pedagógico e das disciplinas, mensagens diretas aos professores e coordenadores, diálogo com a Secretaria Escolar e com o Departamento Financeiro, entre outros.

Segundo COSTA (2014), alguns pressupostos técnicos podem ser destacados para um Ambiente Virtual de Aprendizagem construído com uso do Moodle, tais como acesso protegido e gerenciamento de perfis de usuário, gestão do acesso aos conteúdos e atividades, ferramentas de comunicação síncronas e assíncronas, sistema de controle de atividades dos alunos.

Essa autora busca outras fontes para entender as várias categorias de usuários, que são cinco:

·         o administrador: gestão da execução da plataforma;

·         o criador de cursos: criação, configuração, cadastramento e administração dos cursos dentro da plataforma;

·         o professor: inserção de conteúdos e atividades, correção e saneamento de dúvidas;

·         o aluno: o estudante que usa os recursos da plataforma e

·         os visitantes: são os que acessam a plataforma para visualização.

Experiências de uso do Moodle existem em grande quantidade ao redor do planeta, mas nesse artigo apresentaremos a experiência vivenciada na Universidade Federal de São Paulo em três cursos de especialização, segundo estudo feito por MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015).

Entre os objetivos da pesquisa, salientamos a busca de referências sobre os instrumentos de aprendizagem mais usados pelos estudantes. O Quadro 1, abaixo mostra as ferramentas disponíveis pelo padrão do Moodle.

Fonte: MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015)

Estudando os três cursos de especialização oferecidos pela Universidade Federal de São Paulo, os autores, por meio de ferramentas construídas para os propósitos da pesquisa, produziram um levantamento das ferramentas mais usadas pelos usuários.

A Figura 1 e a Tabela 2 mostram o percentual de ferramentas utilizadas nos três cursos da amostragem, por tipo de objetivo pedagógico. Na Figura 1, os três gráficos menores mostram os percentuais individuais de cada curso, e o gráfico maior mostra a totalização. 

Fonte: MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015)

(CECPN): Especialização em Cuidado Pré—Natal. (EIS): Especialização em Informática em Saúde. (MPNorte): Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde para a Região Norte do Brasil.

 

Fonte: MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015)


A Tabela 2 e a Figura 1 mostram, respectivamente, a soma das ferramentas e os respectivos percentuais de uso por tipo de objetivo pedagógico nos três cursos da amostragem. O tipo mais utilizado, com 79% do total, foi a que tem por objetivo a Transferência de Informação, seguidas pelas ferramentas do tipo Avaliação da Aprendizagem, que somaram 11% do total das utilizadas nos cursos. As ferramentas do tipo Comunicação e Interação somaram 8%, e, por último, as ferramentas do tipo Criação de Conteúdo em Colaboração representaram 2% das empregadas na oferta dos três cursos da amostra de pesquisa. (MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA,(2015).

Segundo os pesquisadores, a ferramenta mais utilizada pelos estudantes foi o que eles denominaram “links para algum tipo de conteúdo”, enquanto que os instrumentos de avaliação foram acessados em proporção oito (8) vezes menos. A questão que se levanta é: as avaliações abordaram todo o conteúdo acessado em forma de “links para algum tipo de conteúdo”? Conteúdos adicionais acessados pelos estudantes foram avaliados?

Pesquisadores estão observando que Ambientes Virtuais de Aprendizagem estão sendo usados como simples depósitos de materiais, o que é, do ponto de vista da aprendizagem, um problema, visto que a simples disponibilização de conteúdos (sejam eles em forma de textos em HTML ou PDF, vídeos ou quaisquer outros formatos), não garantem o equilíbrio entre ensino síncrono e assíncrono, o que por consequência, reduz a interação entre professores e alunos.

A subutilização do Ambiente Virtual de Aprendizagem é evidente, em especial no que se diz respeito ao uso das ferramentas que permitem a interação síncrona entre professores e alunos. Mesmo a interação pelos fóruns é assíncrona pela sua natureza, visto que os estudantes podem comentar as questões enviadas pelos professores a qualquer momento.

Ensino à Distância e uso de plataformas construídas a partir da arquitetura oferecida pelo Moodle são fundamentais para as novas gerações de estudantes e formação dos profissionais do futuro, mas é preciso refletir sobre o caráter humano das ações dentro da plataforma.

Construir Ambientes Virtuais de Aprendizagem com um número significativo de ferramentas de aprendizagem sem pactuar, entre os membros da comunidade escolar (gestores, professores e estudantes), horários específicos de interação síncrona pode acarretar numa consequência inadequada: transformar a plataforma de Ensino à Distância num mero depósito de materiais didáticos e de conteúdos esparsos, cuja absorção, em termos de aprendizagem dificilmente será avaliada de forma adequada.

A depender do Projeto Pedagógico construído e projetado pela instituição de ensino, é possível defender a tese de que uma carga maior de materiais depositados e acessados pelos estudantes seja legítima, visto que o próprio Projeto Pedagógico deve ter autonomia para isso.

Porém, a depender da faixa etária sobre a qual estará atuando o Projeto Pedagógico e o nível de ensino a que propõe, a interação é imperiosa. Essa necessidade está presente, de forma sólida e inquestionável, nas propostas de Blended Learning para o Ensino Básico, defendidas por muitos autores, para os quais não é possível postar conteúdos prontos para estudantes que ainda estão em fase de desenvolvimento de habilidade básicas, tais como as do raciocínio matemático, o desenvolvimento do domínio das habilidades linguísticas e as do raciocínio lógico dedutivo.

Para determinados níveis de ensino, interação, colaboração e construção coletiva do conhecimento são fundamentos de qualquer Projeto Pedagógico que objetive desenvolver a autonomia intelectual dos estudantes. Não é suficiente que o Ambiente Virtual de Aprendizagem disponibilize as ferramentas de interação entre estudantes e professores; é preciso que elas sejam, de fato, utilizadas e avaliadas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, K.O. 2008. A escola de tempo integral como política pública educacional: a experiência de Goianésia – GO, de 2001 a 2006. XXIII Simpósio Brasileiro, V Congresso Luso-Brasileiro.

COSTA, P. S. e MENDONÇA, L. S. (2014). Revista Eletrônica da Divisão de Formação Docente, v. 2, n.1 – 1° semestre 2014, disponível em http://www.seer.ufu.br/index.php/diversapratica

Ensino adaptativo: entenda como a tecnologia pode facilitar o aprendizado. s/d. Disponível em https://www.escolaweb.com.br/blog/tecnologias-para-educacao/ensino-adaptativo-entenda-como-a-tecnologia-pode-facilitar-o-aprendizado/. Acesso em 29/12/2019.

Estúdio Site – Projetos de Educação A Distância, 2017. Available: https://www.estudiosite.com.br/site/moodle/moodle. [Accessed 16 Julho 2020].

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. 2018. Relatório Média de Horas-Aula Diária. Disponível em http://portal.inep.gov.br/web/guest/indicadores-educacionais. Acesso em 28/12/2019.

 JOHANNSEN, D. M. 2019. Inserção da Khan Academy nas Aulas de Matemática do 9º ano do Ensino Fundamental: um estudo de caso. Trabalho de Conclusão apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista em Informática Instrumental. Porto Alegre.

LÉVY, P. Os benefícios das ferramentas virtuais para o ensino. 2013. Revista Gestão Educacional, abril de 2013. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/294992441/Pierre-Levy. Acesso em 29/12/2019.

MAGNAGNAGNO, C. C. RAMOS, M. P. e OLIVEIRA, L. M. P. de. (2015). “Estudo sobre o Uso do Moodle em Cursos de Especialização a Distância da Unifesp”, Revista Brasileira de educação Médica, 39 (4) : 507-516, disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbem/v39n4/1981-5271-rbem-39-4-0507.pdf

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. 2010. Conselho Nacional de Educação. Relator: RAMOS, Mozart Neves. Parecer nº 8/2010. Aprovado em 05/05/2010. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=5368-pceb008-10&Itemid=30192. Acesso em 28/12/2019.