sábado, 25 de julho de 2020

A PLATAFORMA MOODLE E SEU USO NO ENSINO

Sabemos que a internet já possui algumas décadas de existência na vida cotidiana da maioria da população. Seus usos são variados, desde o corriqueiro correio eletrônico até a vivência em redes sociais atuais das mais variadas.

Em Educação e Ensino, seu uso também se estendeu em vários formatos, desde a simples leitura de textos cotidianos até o de densos livros, passando por vídeos que hoje podem ser acessados por uma ampla massa de indivíduos, além dos também populares blogs.

Segundo MORAN (1995):

A internet é a mesma de sempre, desde a sua criação, o que mudou, com o passar dos anos, foi que ela se tornou mais disponível e com mais recursos para as pessoas, sendo possível criar várias formas de utilizá-la e diversos usos para essa ferramenta, e mudou ainda a definição de tempo e espaço (MORAN, 1995)

Mas, para Educação e Ensino, pesquisadores e programadores de sistemas desenvolveram formatos específicos e estruturados de transmissão de conteúdos e desenvolvimento de habilidades, via internet. Isso ocorreu com a criação dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, ambientes estruturados com ferramentas específicas a partir de objetivos específicos de ensino e aprendizagem.

O Moodle é um desses ambientes, ou plataformas, que permitem a execução de um Projeto Pedagógico de ensino-aprendizagem por meio da interação entre alunos e professores.

Nesse pequeno artigo, apresentaremos os preâmbulos desse ambiente no contexto do crescente acesso dos indivíduos à internet.

Moodle é a forma reduzida da expressão em língua inglesa “Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment”, que traduzia para a língua portuguesa significa “Ambiente de Aprendizagem Dinâmico Orientado a Objetos Modulares”.

Trata-se da plataforma mais usada para a construção de Ambientes Virtuais de Aprendizagem em todo o planeta. Levantamento publicado pelo Estúdio Site em 2017, indicava que havia 83.674 domínios registrados em 233 países com uso do Moodle.

O grande diferencial do Moodle, para além de suas funcionalidades adequadas ao Ensino a Distância e das diversas ferramentas que ele oferece, é o fato de seu código ser aberto, open-source, ou seja: não há taxas de licenciamento e o construtor da plataforma pode alterar seu código sem ferir nenhum tipo de contrato ou política de software. Além disso, ele pode ser construído em qualquer idioma. (Estúdio Site, 2017)

O Moodle pode ser utilizado para diversos projetos de ensino-aprendizagem, desde um curso básico de inglês ou um curso de marcenaria até um curso de pós-graduação em uma Universidade.

Considerando as características da geração Y, indivíduos que nasceram no final do século XX e que, em sua maioria, habitam ambientes urbanos e estão conectados com a internet e suas novas ferramentas e linguagens, trata-se de pensar e projetar formas de utilização dessas novas tecnologias disponíveis para ampliar as possibilidades de aprendizagem. Nesse sentido, o Moodle é uma ferramenta de boa qualidade.

O que importa, realmente, do ponto de vista didático e pedagógico, na construção de um Ambiente Virtual de Aprendizagem? Importa que se garanta que os conteúdos estejam acessíveis, tais como o programa do curso, texto didático, podcasts, vídeos, acesso à bibliotecas virtuais e relatórios de acesso ao ambiente, por exemplo. Todas essas ferramentas estão disponíveis para serem customizadas no Moodle.

Mais do que isso, a plataforma deve permitir o fundamento que garante a qualidade de qualquer Ambiente Virtual de Aprendizagem: a interação entre professores e alunos. Nesse sentido, destacam-se as ferramentas possíveis de serem customizadas no Moodle, tais como os chats de bate-papo, os fóruns de discussões sobre temas relevantes para os objetivos do projeto pedagógico e das disciplinas, mensagens diretas aos professores e coordenadores, diálogo com a Secretaria Escolar e com o Departamento Financeiro, entre outros.

Segundo COSTA (2014), alguns pressupostos técnicos podem ser destacados para um Ambiente Virtual de Aprendizagem construído com uso do Moodle, tais como acesso protegido e gerenciamento de perfis de usuário, gestão do acesso aos conteúdos e atividades, ferramentas de comunicação síncronas e assíncronas, sistema de controle de atividades dos alunos.

Essa autora busca outras fontes para entender as várias categorias de usuários, que são cinco:

·         o administrador: gestão da execução da plataforma;

·         o criador de cursos: criação, configuração, cadastramento e administração dos cursos dentro da plataforma;

·         o professor: inserção de conteúdos e atividades, correção e saneamento de dúvidas;

·         o aluno: o estudante que usa os recursos da plataforma e

·         os visitantes: são os que acessam a plataforma para visualização.

Experiências de uso do Moodle existem em grande quantidade ao redor do planeta, mas nesse artigo apresentaremos a experiência vivenciada na Universidade Federal de São Paulo em três cursos de especialização, segundo estudo feito por MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015).

Entre os objetivos da pesquisa, salientamos a busca de referências sobre os instrumentos de aprendizagem mais usados pelos estudantes. O Quadro 1, abaixo mostra as ferramentas disponíveis pelo padrão do Moodle.

Fonte: MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015)

Estudando os três cursos de especialização oferecidos pela Universidade Federal de São Paulo, os autores, por meio de ferramentas construídas para os propósitos da pesquisa, produziram um levantamento das ferramentas mais usadas pelos usuários.

A Figura 1 e a Tabela 2 mostram o percentual de ferramentas utilizadas nos três cursos da amostragem, por tipo de objetivo pedagógico. Na Figura 1, os três gráficos menores mostram os percentuais individuais de cada curso, e o gráfico maior mostra a totalização. 

Fonte: MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015)

(CECPN): Especialização em Cuidado Pré—Natal. (EIS): Especialização em Informática em Saúde. (MPNorte): Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde para a Região Norte do Brasil.

 

Fonte: MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA (2015)


A Tabela 2 e a Figura 1 mostram, respectivamente, a soma das ferramentas e os respectivos percentuais de uso por tipo de objetivo pedagógico nos três cursos da amostragem. O tipo mais utilizado, com 79% do total, foi a que tem por objetivo a Transferência de Informação, seguidas pelas ferramentas do tipo Avaliação da Aprendizagem, que somaram 11% do total das utilizadas nos cursos. As ferramentas do tipo Comunicação e Interação somaram 8%, e, por último, as ferramentas do tipo Criação de Conteúdo em Colaboração representaram 2% das empregadas na oferta dos três cursos da amostra de pesquisa. (MAGNAGNAGNOI, RAMOSI e OLIVEIRA,(2015).

Segundo os pesquisadores, a ferramenta mais utilizada pelos estudantes foi o que eles denominaram “links para algum tipo de conteúdo”, enquanto que os instrumentos de avaliação foram acessados em proporção oito (8) vezes menos. A questão que se levanta é: as avaliações abordaram todo o conteúdo acessado em forma de “links para algum tipo de conteúdo”? Conteúdos adicionais acessados pelos estudantes foram avaliados?

Pesquisadores estão observando que Ambientes Virtuais de Aprendizagem estão sendo usados como simples depósitos de materiais, o que é, do ponto de vista da aprendizagem, um problema, visto que a simples disponibilização de conteúdos (sejam eles em forma de textos em HTML ou PDF, vídeos ou quaisquer outros formatos), não garantem o equilíbrio entre ensino síncrono e assíncrono, o que por consequência, reduz a interação entre professores e alunos.

A subutilização do Ambiente Virtual de Aprendizagem é evidente, em especial no que se diz respeito ao uso das ferramentas que permitem a interação síncrona entre professores e alunos. Mesmo a interação pelos fóruns é assíncrona pela sua natureza, visto que os estudantes podem comentar as questões enviadas pelos professores a qualquer momento.

Ensino à Distância e uso de plataformas construídas a partir da arquitetura oferecida pelo Moodle são fundamentais para as novas gerações de estudantes e formação dos profissionais do futuro, mas é preciso refletir sobre o caráter humano das ações dentro da plataforma.

Construir Ambientes Virtuais de Aprendizagem com um número significativo de ferramentas de aprendizagem sem pactuar, entre os membros da comunidade escolar (gestores, professores e estudantes), horários específicos de interação síncrona pode acarretar numa consequência inadequada: transformar a plataforma de Ensino à Distância num mero depósito de materiais didáticos e de conteúdos esparsos, cuja absorção, em termos de aprendizagem dificilmente será avaliada de forma adequada.

A depender do Projeto Pedagógico construído e projetado pela instituição de ensino, é possível defender a tese de que uma carga maior de materiais depositados e acessados pelos estudantes seja legítima, visto que o próprio Projeto Pedagógico deve ter autonomia para isso.

Porém, a depender da faixa etária sobre a qual estará atuando o Projeto Pedagógico e o nível de ensino a que propõe, a interação é imperiosa. Essa necessidade está presente, de forma sólida e inquestionável, nas propostas de Blended Learning para o Ensino Básico, defendidas por muitos autores, para os quais não é possível postar conteúdos prontos para estudantes que ainda estão em fase de desenvolvimento de habilidade básicas, tais como as do raciocínio matemático, o desenvolvimento do domínio das habilidades linguísticas e as do raciocínio lógico dedutivo.

Para determinados níveis de ensino, interação, colaboração e construção coletiva do conhecimento são fundamentos de qualquer Projeto Pedagógico que objetive desenvolver a autonomia intelectual dos estudantes. Não é suficiente que o Ambiente Virtual de Aprendizagem disponibilize as ferramentas de interação entre estudantes e professores; é preciso que elas sejam, de fato, utilizadas e avaliadas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, K.O. 2008. A escola de tempo integral como política pública educacional: a experiência de Goianésia – GO, de 2001 a 2006. XXIII Simpósio Brasileiro, V Congresso Luso-Brasileiro.

COSTA, P. S. e MENDONÇA, L. S. (2014). Revista Eletrônica da Divisão de Formação Docente, v. 2, n.1 – 1° semestre 2014, disponível em http://www.seer.ufu.br/index.php/diversapratica

Ensino adaptativo: entenda como a tecnologia pode facilitar o aprendizado. s/d. Disponível em https://www.escolaweb.com.br/blog/tecnologias-para-educacao/ensino-adaptativo-entenda-como-a-tecnologia-pode-facilitar-o-aprendizado/. Acesso em 29/12/2019.

Estúdio Site – Projetos de Educação A Distância, 2017. Available: https://www.estudiosite.com.br/site/moodle/moodle. [Accessed 16 Julho 2020].

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. 2018. Relatório Média de Horas-Aula Diária. Disponível em http://portal.inep.gov.br/web/guest/indicadores-educacionais. Acesso em 28/12/2019.

 JOHANNSEN, D. M. 2019. Inserção da Khan Academy nas Aulas de Matemática do 9º ano do Ensino Fundamental: um estudo de caso. Trabalho de Conclusão apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista em Informática Instrumental. Porto Alegre.

LÉVY, P. Os benefícios das ferramentas virtuais para o ensino. 2013. Revista Gestão Educacional, abril de 2013. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/294992441/Pierre-Levy. Acesso em 29/12/2019.

MAGNAGNAGNO, C. C. RAMOS, M. P. e OLIVEIRA, L. M. P. de. (2015). “Estudo sobre o Uso do Moodle em Cursos de Especialização a Distância da Unifesp”, Revista Brasileira de educação Médica, 39 (4) : 507-516, disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbem/v39n4/1981-5271-rbem-39-4-0507.pdf

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. 2010. Conselho Nacional de Educação. Relator: RAMOS, Mozart Neves. Parecer nº 8/2010. Aprovado em 05/05/2010. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=5368-pceb008-10&Itemid=30192. Acesso em 28/12/2019.







terça-feira, 23 de junho de 2020

Tecnologia e Educação - Adauto Damásio

INTRODUÇÃO

As transformações tecnológicas engendradas a partir do início da Terceira Revolução Industrial impactaram profundamente a economia, a vida social, a cultura e até as práticas políticas das populações do planeta.

Na economia, verdadeiras revoluções disruptivas “assombram” a humanidade desde a união entre os computadores e as telecomunicações, alterando os paradigmas da indústria, do comércio e dos serviços. A robotização, com uso da inteligência artificial, promove transformações radicais no mundo da produção material.

Na vida social, a instantaneidade das comunicações promove, por um lado, o “alargamento” das relações sociais humanas e, por outro lado, acelera o processo narcísico do crescente individualismo.

Na cultura, para além do próprio narcisismo “em alta”, como traço psicanalítico, todos os indivíduos passaram a ter voz pública, por meio das mídias sociais. Tal fenômeno é rigorosamente inédito na história da humanidade. Em 2020, ‘todos’ podem emitir suas opiniões sobre qualquer tema, mesmo que nada conheça sobre ele (ECO, 2015). 

Nas práticas políticas, os cidadãos passaram a ser organizar por meio de mídias sociais digitais variadas, tais como Facebook, Whatsapp, entre outros. Para além de disputas ideológicas entre grupos, o Estado se vê cada vez mais “acuado” diante da enfurecida “plebe” pagadora de impostos. A partir da invenção das mídias sociais, lideranças políticas populistas passaram a governar buscando a comunicação direta com as “massas”.

Não se trata de fenômeno novo! Transformações tecnológicas sempre fizeram parte da história da humanidade e elas sempre resultaram em mudanças nas várias esferas da vida em grupo.

O ser humano, em suas várias “versões” de hominídeos, habitam a Terra a 2,5 milhões de anos. A maior parte desse tempo, os hominídeos viveram no período que se convencionou denominar de Paleolítico, período no qual sequer as técnicas agrícolas tinham sido inventadas.

No final desse período, por volta de 100 mil anos atrás, os homens passaram a dominar e controlar o fogo com eficiência. Essa, talvez tenha sido a primeira grande transformação tecnológica criada pela espécie humana. Com o controle completo do fogo, os seres humanos passaram a usá-lo para afastar animais perigosos, caçar esses mesmos animais, proteger-se do frio, aquecer os alimentos, entre outras utilidades do cotidiano. O controle e o domínio do fogo trouxe mais poder político e bélico para os grupos que o dominaram.

Inúmeras outras transformações tecnológicas poderiam ser citadas e explicadas, mas fugiria ao escopo da presente atividade. Uma também notável invenção humana, que transformou a forma de viver da espécie humana foi a agricultura, promovendo o sedentarismo, criando as condições para a prática da domesticação dos animais, a criação dos primeiros vilarejos, a invenção do comércio, o nascimento do próprio Estado e das religiões. (BRAIDWOOD, 1982)

De qual forma tais transformações tecnológicas alteraram a prática da educação na história da humanidade?

Na Pré-História, crianças e jovens eram educados com objetivos práticos em função da luta pela sobrevivência. Educação dizia respeito à transmitir a experiência para as gerações seguintes. Na Antiguidade, oriental e ocidental (Egito Antigo, Grécia e Roma, por exemplos), a invenção da escrita propiciou uma nova forma de controle, do Estado, sobre as pessoas e sobre a produção, criando a necessidade de que aprendizes dominassem a escrita como técnica (escribas). A Educação tinha finalidades práticas. (LOMBARDO, 2017)

Mas foi somente a partir do final do século XVIII, na Europa ocidental, que a Educação de crianças e jovens passou a ser realizada em escolas. Outras experiências existiram antes disso, tais como a Educação religiosa na Europa e nos Estados Unidos da América. Mas foi somente a partir da Revolução Industrial que a massa de crianças e jovens passou a ser objeto da disciplinarização dos comportamentos a partir do paradigma fabril e do cientificismo que hegemonizou a cultura a partir de então.

Assim, nascia um ‘formato’ de escola que persiste em seu modelo arquitetônico e pedagógico até o século XXI, baseado em formas de coerção psicológica, ensino de conteúdos científicos e com seus pressupostos de disciplina. Dessa forma, a Educação tornou-se, gradativamente mais formal e voltada para as necessidades das contemporaneidades dominadas pela indústria fordista, pela ciência, pelo protestantismo luterano e calvinista. (GRAY, 2015)

Porém, aparentemente, as necessidades humanas mudaram. Como escrevemos no início desse introito, as transformações tecnológicas trouxeram novos desafios para o mundo do trabalho e da educação. Dentro desse contexto é que se inserem as discussões sobre o uso de novas tecnologias na educação, bem como a definição de novos objetivos dos processos educacionais.

DESENVOLVIMENTO

As transformações tecnológicas no mundo da produção trouxeram uma nova realidade para os habitantes do planeta: caminhamos para o que Hargreaves (2004) denomina “sociedade da aprendizagem”. Tal direção está condicionada aos efeitos da revolução tecnológica potencializada pela robotização, pela inteligência artificial e pela biotecnologia.

Assim, o autor produz a crítica da organização escolar tradicional, com suas carteiras rigorosamente enfileiradas, currículos padronizados e aulas canônicas, pois essa forma de organização pode não favorecer o desenvolvimento de habilidades que a sociedade contemporânea requer, quais sejam, práticas que promovam o trabalho coletivo, incentivo à resolução de problemas e a disposição para a aprendizagem permanente.

Moran (2007) destaca a necessidade de alteração do enfoque conteudista para o do incentivo à construção do conhecimento e da interação. A proposta central é que o professor seja um mediador entre o conhecimento e a efetiva aprendizagem dos alunos, por meio do incentivo à participação no desvendamento dos processos de descoberta, investigação e resolução de problemas.

Parametrizando conceitos, Moran salienta a necessidade de diferenciar os conceitos de educação e ensino.

“Ensino e educação são conceitos diferentes. No ensino organiza-se uma série de atividades didáticas para ajudar os alunos a compreender áreas específicas do conhecimento (ciências, história, matemática). Na educação o foco, além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma visão de totalidade. Educar é ajudar a integrar todas as dimensões da vida, a encontrar nosso caminho intelectual, emocional, profissional, que nos realize e que contribua para modificar a sociedade que temos.” (MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. 2000, p. 12).

Segundo o autor, há mais preocupação com ensino de qualidade do que com a educação de qualidade. Educação de qualidade seria um processo mais amplo que envolveria a transformação da vida em processos permanentes de aprendizagem e garantir autonomia intelectual para que os jovens construíssem seus projetos de vida nos âmbitos de suas habilidades de compreensão, emoção e comunicação, tornando-os cidadãos (p. 13).

Ainda segundo Moran, ensino de qualidade compreende inovação, dinamismo, tecnologias acessíveis, professores capacitados e com alunos motivados. Dessa forma, as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) podem e devem ser utilizadas como ferramentas integradas às práticas de ensino e aprendizagem.

O que seria, então, o pensamento? “Pensar é aprender a raciocinar, a organizar logicamente o discurso”; informações são processadas, de forma mais comum, pelo processamento lógico-sequencial que se expressa na linguagem falada e escrita. Mas existem várias outras formas de aprender a raciocinar e o autor as descreve com brevidade. Atualmente, processamos informações de forma multimídia,    

“juntando pedaços de textos de várias linguagens superpostas simultaneamente, que compõem um mosaico impressionista, na mesma tela, e que se conectam com outras telas multimídia. A leitura é cada vez menos sequencial. As conexões são tantas que o mais importante é a visão ou leitura em flash, no conjunto, uma leitura rápida, que cria significações provisórias, dando uma interpretação rápida para o todo, e que vai se completando com as próximas telas, através do fio condutor da narrativa subjetiva: dos interesses de cada um, das suas formas de perceber, sentir e relacionar-se.” (MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. 2000, pp. 23-24)

Dessa forma, surge a necessidade, em função dessas novas tecnologias que impactam nas formas de aprender, de incorporar as novas tecnologias ao processo instrucional e educativo.

O professor e a aprendizagem

Mas afinal, como se aprende? Para Moran:

“Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando descobrimos novas dimensões de significação que antes se nos escapavam. Aprendemos quando equilibramos e integramos o sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social. Aprendemos pelo pensamento divergente, por meio da tensão, da busca, e pela convergência - pela organização, pela integração. Aprendemos pela concentração em temas ou objetivos definidos ou pela atenção difusa, quando estamos de antenas ligadas, atentos ao que acontece ao nosso lado. Aprendemos quando perguntamos, questionamos. Aprendemos quando interagimos com os outros e o mundo e depois, quando interiorizamos, quando nos voltamos para dentro, fazendo nossa própria síntese, nosso reencontro do mundo exterior com a nossa reelaboração pessoal. Aprendemos pelo interesse, pela necessidade. Aprendemos pela criação de hábitos, pela automatização de processos, pela repetição. Aprendemos pela credibilidade que alguém nos merece. Aprendemos pelo prazer, porque gostamos de um assunto, de uma mídia, de uma pessoa. Aprendemos mais, quando conseguimos juntar todos os fatores: temos interesse, motivação clara. Aprendemos realmente quando conseguimos transformar nossa vida em um processo permanente, paciente, confiante e afetuoso de aprendizagem.” (MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. 2000, pp. 23-24).

O autor busca circunscrever todas as formas de aprender, atentando para fatores causais que se estendem desde as necessidades práticas da vida até os de empatia com aquele que ensina, finalizando com a busca do processo permanente de aprendizagem ao longo de toda a vida.

Nesse caminho de repensar a educação, a didática, o ensino e a aprendizagem, uma outra questão se projeta de forma extremamente pertinente: o papel do professor no processo de aprendizagem.

Dentre as características do professor, uma deve ser destacada: “o professor é um pesquisador em serviço.” O professor deve aprender no processo de ensino. Entre os papeis fundamentais do professor, destacam-se o de ser orientador/mediador intelectual, orientador/mediador emocional, orientador/mediador gerencial e comunicacional e orientador ético. (MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. 2000, pp. 30-31).

As novas tecnologias, oriundas da revolução tecnológica desse início do século XXI, insere o desafio para que profissionais da educação direcionem seus radares para uma educação que seja mediada também pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação.

Observo que há uma tendência de generalização dos discursos sobre o uso das novas tecnologias na educação. Várias nuances devem ser inseridas nesse debate. Destaco duas.

Em primeiro lugar, não verifico uma avaliação rigorosa, lastreada em pesquisas científicas, entre performance de aprendizagem e uso de novas tecnologias educacionais. Claro e evidente que os novos rumos tecnológicos “experienciados” no planeta demandam uma aproximação necessária entre educação, ensino, aprendizagem e todas as novas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs). Não estarei eu aqui negligenciando tal necessidade. Porém, é preciso medir! Faz-se necessário que existam pesquisas científicas que comprovem a eficácia e, eventualmente, resultados de performance superiores das metodologias ativas com uso das TDICs.

Em segundo lugar, é essencial que os pesquisadores acadêmicos passem a segmentar suas pesquisas em função do nível educacional e das faixas etárias às quais se referem. Quais são os estímulos a serem proporcionados às crianças na faixa etária entre 3 e 5 anos com auxílio das TDICs? Não sei. Talvez nenhum. No Ensino Médio, a despeito de já haver promissoras experiências no processo de ensino aprendizagem de matemática com auxílio das TDICs, há que se perguntar quais são suas aplicações na literatura ou nas artes.

Estamos no início do processo de incorporação das TDICs na educação, no ensino e na aprendizagem. Precisamos refinar e lapidar esse debate.

Novas tecnologias, educação, ensino e desenvolvimento de habilidades

A primeira aproximação sobre o tema do uso das TDICs na educação deve considerar a necessidade de desenvolvimento, nos alunos, de competências e habilidades.

“Perrenoud (2009) afirma que a competência pode ser traduzida na capacidade de agir eficazmente perante um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas não limitada a eles. Esse conceito é mais amplo do que o de habilidade, caracterizado como capacidade que uma pessoa adquire para desempenhar determinado papel ou função. A competência pode ser definida como junção e coordenação das habilidades com conhecimentos e atitudes.” (Netto, 2017)

Ou seja, o uso das TDICs devem levar em consideração esses objetivos: desenvolvimento, nos alunos, de competências e habilidades. Tais competências e habilidades podem ser mapeadas a partir de três grandes categorias, como a seguir.



 

Fonte: https://blog.elos.vc/competencias-e-habilidades-do-seculo-21/

O domínio cognitivo refere-se ao pensamento racional, estendendo-se à linguagem, escrita, analise, entre tantos outros, o domínio intrapessoal refere-se à gestão das emoções e o domínio interpessoal remete às formas de relacionamento social, como fica evidente na imagem anterior.

Todo o trabalho para o desenvolvimento dessas competências e habilidades é humano. As TDICs podem (e devem) auxiliar nessa tarefa. É o trabalho humano (docente) que pode oferecer relevância ao uso das TIDCs no sentido de criar, nos alunos, a aprendizagem significativa.

Aprendizagem significativa é um conceito desenvolvido pelo pensador David Ausubel. O conceito de aprendizagem significativa remete a um

“processo pelo qual uma nova informação se relaciona com a estrutura de conhecimento de um indivíduo. Conforme apresenta Moreira (1999), a aprendizagem significativa ocorre quando uma nova informação se ancora em conceitos relevantes (subsunçores) preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Ausubel define estruturas cognitivas como estruturas hierárquicas de conceitos que são representações de experiências sensoriais do indivíduo. A ocorrência da aprendizagem significativa implica o crescimento e a modificação do conceito subsunçor.” (Netto, 2017)

Dessa forma, a organização de mapas conceituais pode ser uma estratégia de muito sucesso na facilitação da aprendizagem significativa. O mapa conceitual organiza o pensamento e possibilita hierarquizar conceitos centrais, periféricos e processos. As TIDCs podem ser usadas nesse processo, pois há várias ferramentas online que permitem a construção dos mapas conceituais. Por exemplo, temos GoConqr, que pode ser acessado no link https://www.goconqr.com. Abaixo, um exemplo de um mapa conceitual feito nessa plataforma.



Dessa forma, sim: as TDICs podem e devem ser utilizadas para aperfeiçoar e, eventualmente, revolucionar a educação, o ensino e a aprendizagem.

Conclusão

Como conclusão, podemos afirmar que as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) são importantes, considerando sua contemporaneidade. Os seres humanos, ao longo da sua história, construíram as mais variadas ferramentas, do arco e flecha ao computador; são ferramentas, apenas!

Tais ferramentas contemporâneas não são revolucionárias per si. Elas são revolucionárias quando utilizadas com competência didática e pedagógica para alcançar objetivos traçados em função das necessidades humanas.

Como apresentado, Ausubel propõe que educação e ensino objetivem a aprendizagem significativa. Se as ferramentas tecnológicas auxiliam nesse processo de ensino, devemos utilizá-las. Mas lembremos: o arco e a flecha não tinham (como não tem até hoje) uma existência desconectada de sua função ontológica.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRAIDWOOD, Robert, 1982. Homens Pré-históricos. Brasília: Editora da UNB.

CLASTRES, Pierre, 1982. A Sociedade Contra o Estado. Rio de Janeiro: Ed. Francisco Alves.

ECO, HUMBERTO, 2015. Redes sociais deram voz a legião de imbecis, diz Umberto Eco. Disponível em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2015/06/11/redes-sociais-deram-voz-a-legiao-de-imbecis-diz-umberto-eco.jhtm. Acesso em 26/02/2020.

Ensino adaptativo: entenda como a tecnologia pode facilitar o aprendizado. s/d. Disponível em https://www.escolaweb.com.br/blog/tecnologias-para-educacao/ensino-adaptativo-entenda-como-a-tecnologia-pode-facilitar-o-aprendizado/. Acesso em 29/12/2019.

GRAY, P, 2015. Uma breve história da educação e da escola. Disponível em https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/12/22/uma-breve-historia-da-educacao-e-da-escola/. Acesso em 27/02/2020.

HARGREAVES, Andy (2004). Ensino na Sociedade do Conhecimento. Porto: Porto Editora.

LÉVY, P. Os benefícios das ferramentas virtuais para o ensino. 2013. Revista Gestão Educacional, abril de 2013. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/294992441/Pierre-Levy. Acesso em 29/12/2019.

LOMBARDO, L. (2017). Como fazíamos sem professor? Disponível em https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/como-faziamos-professor-473340.phtml. Acesso em 26/02/2020.

MORAN, J. 2000. Mudar a forma de ensinar e aprender com tecnologias. Interações, Vol. V, núm. 9, jan-jun, pp. 57-72. Universidade São Marcos. São Paulo, Brasil.

MORAN, J. 2015. Mudando a educação com metodologias ativas. Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Vol. II] Carlos Alberto de Souza e Ofelia Elisa Torres Morales (orgs.) .

MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. 2010. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus.

MOREIRA, M. A., 1999. Aprendizagem significativa. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

NETTO, Cristiane Mendes, 2017. Boca Ratón: Must University.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Ensino Híbrido - José Moran

José Moran. Professor de Novas Tecnologias do curso de Televisão da Universidade de São Paulo. Autor dos livro :"Mudanças na Comunicação pessoal"




"O ensino híbrido, ou blended learning, é uma das maiores tendências da Educação do século 21, que promove uma mistura entre o ensino presencial e propostas de ensino online – ou seja, integrando a Educação à tecnologia, que já permeia tantos aspectos da vida do estudante."



domingo, 21 de junho de 2020

Educação e Aprendizagem: um exemplo.


Sobral (CE) ocupa primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

Publicado em 03/01/2020

A cada duas crianças de 10 anos vivendo em países em desenvolvimento, uma não entende o que lê. Esse problema, definido como pobreza na aprendizagem, é uma realidade tanto na América Latina e Caribe (onde o percentual de crianças impactadas é de 51%) quanto global (53%).

Tal cenário dá origem à crise do aprendizado: embora se reconheça que há maior cobertura educacional, a qualidade do ensino não é suficiente. Diante disso, projetos educacionais como o de Sobral (CE) mostram que, quando se quer melhorar, se pode. Leia a reportagem do Banco Mundial.


A cada duas crianças de 10 anos vivendo em países em desenvolvimento, uma não entende o que lê. Esse problema, definido como pobreza na aprendizagem, é uma realidade tanto na América Latina e Caribe (onde o percentual de crianças impactadas é de 51%) quanto global (53%).

Tal cenário dá origem à crise do aprendizado: embora se reconheça que há maior cobertura educacional, a qualidade do ensino não é suficiente. Diante disso, projetos educacionais como o de Sobral (CE) mostram que, quando se quer melhorar, se pode.

Sobral tem cerca de 208 mil habitantes. Em 2005, a cidade ficou em 1366º lugar nacional no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Dez anos depois, alcançou o primeiro lugar nessa mesma avaliação e nunca mais saiu.

Como conseguiu isso?

Ivo Ferreira Gomes, atual prefeito de Sobral e que antes desse cargo foi secretário de Educação do município, compartilhou com orgulho e emoção os principais marcos do trabalho educacional que vem sendo realizado há alguns anos.

Leia abaixo a entrevista.

O que aconteceu em Sobral? Como o município alcançou esses resultados no aprendizado infantil?

O processo de mudança começou 22 anos atrás. Desde 1997, a educação tem sido nosso principal patrimônio. Decidimos que todas as crianças do município teriam acesso à educação, pois à época 30% de crianças e adolescentes não tinham acesso ao sistema escolar. E conseguimos, investimos tudo o que foi necessário em infraestrutura, em novos edifícios, em tudo o que o dinheiro poderia comprar.

Depois de quatro anos, estávamos felizes, pensávamos que tínhamos sucesso, tínhamos todas as crianças e adolescentes da escola, além de novas instalações e equipamentos. Contratamos uma avaliação de aprendizado para saber como os alunos estavam e, quando os resultados chegaram, foi um grande choque para nós. Pensávamos que estávamos indo muito bem e, na verdade, o que fizemos era necessário, mas não o suficiente para ter boas escolas.

A pesquisa mostrou que mais da metade dos alunos, da pré-escola ao ensino médio, não sabia ler um parágrafo simples. Também percebemos que os professores não eram treinados para ensinar a ler, porque não estavam preparados para isso. Naquela época, a academia pensava que isso era normal porque os estudantes vinham de bairros muito pobres. Tínhamos a intuição de que todos poderiam aprender independentemente de sua origem socioeconômica, algo comprovado mais tarde. Hoje, essas mesmas pessoas pobres estão no primeiro lugar da avaliação nacional de aprendizagem.

Qual metodologia você usou?

Começamos a mostrar aos professores como ensinar as crianças a ler, porque isso não é fácil, não é um instinto. É uma criação, um treinamento humano. É necessário ter objetivos para que cada criança possa ler pequenas histórias aos 7 anos de idade. Esse é o nosso critério para definir que uma criança consegue ler e entender. Para isso, as avaliamos a cada semestre. É um trabalho árduo, mas necessário e agora faz parte da rotina.

Durante a avaliação, colocamos os alunos para ler uma palavra, depois uma frase, um parágrafo e uma pequena história com perguntas de interpretação. Enquanto isso, as gravamos. Dessa forma, podemos garantir que eles entendam, porque se você não entende a mensagem do texto, não aprende. Também medimos a velocidade de leitura. Para entender a mensagem, você deve ler a uma certa velocidade, certa quantidade de palavras por minuto, porque se você não tiver uma certa velocidade, estará mais focado em juntar as palavras e não na própria mensagem.

Quando as crianças não passam na avaliação, são enviadas para aulas extras no período da tarde na mesma escola; cada criança recebe tratamento individual, pois tem necessidades diferentes. Precisamos saber se algo está acontecendo em casa, se eles têm alguma necessidade clínica, talvez precisem de óculos ou tenham um problema de aprendizagem. Essa é uma das principais responsabilidades em Sobral. Tratamos cada criança como um sujeito de direito.



Quem foi fundamental para alcançar o sucesso desse programa?

O governo, os professores, os pais, porque não há boa educação sem os pais. Existem algumas condições que estão fora do controle da escola, por exemplo, os pais podem garantir que as crianças vão à escola todos os dias, cheguem pontualmente, façam a lição de casa. Sobral construiu um relacionamento muito forte com os pais. Dissemos a eles: se você ama seus filhos, isso significa que serão bem-sucedidos na escola. Portanto, você tem responsabilidades a assumir e isso tornou os pais muito próximos das escolas e dos diretores.

Também fomos ajudados por organizações sociais nacionais e internacionais em relação a instrumentos de medição e avaliações. Elas também nos alertaram, por exemplo, sobre o que eles não estavam aprendendo ou que certas crianças não eram capazes de ler.

Você nos falou sobre os diferentes responsáveis por levar as crianças às escolas e que eles são capazes de ler e entender as leituras aos 7 anos. Mas qual foi a parte crucial dessa conquista?

Professores. Eles são o ativo mais importante, estão no centro do sistema educacional, são fundamentais. Sem professores felizes, amorosos e bem preparados, não teremos uma boa educação. Temos que fazer todo o possível para gerar um contexto apropriado ao ensino para eles. Temos um programa permanente para ensinar os professores diariamente: existe uma escola de ensino em Sobral para os professores. Eles dedicam 20% do seu tempo semanal para se requalificar, recebem informações atualizadas e ganham dinheiro extra pelos resultados alcançados no fim do ano com os alunos.

O reconhecimento que obtiveram da sociedade, do governo, da mídia e das crianças elevou sua autoestima e isso foi mais importante para eles do que o dinheiro extra que podem receber. Orgulham-se de seu trabalho.

Quando uma criança abandona a escola, seu futuro é incerto. Por isso, é importante garantir que cada criança possa aprender, tendo o ambiente apropriado, um bom professor e alguém para cuidar dele.

Fonte: https://nacoesunidas.org/sobral-ce-ocupa-primeiro-lugar-no-indice-de-desenvolvimento-da-educacao-basica/, acesso em 21/06/2020


O PARADOXO DE NELSON RODRIGUES | Priscila Gontijo

Nelson Rodrigues (1912-1980)



Biografia de Nelson Rodrigues

Dramaturgo, nascido no Recife e criado no Rio de Janeiro, deixou legado de 17 peças, além de romances, contos e crônicas



Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, em 1912. Aos 5 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar na Rua Alegre, em Aldeia Campista, bairro que depois seria absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã, Tijuca e Vila Isabel. Em contato com a imaginação fértil do futuro escritor, a realidade da Zona Norte carioca, com suas tensões morais e sociais, serviu como fonte de inspiração para Nelson construir personagens memoráveis e histórias carregadas de lirismo trágico.

Aos 13 anos, ingressa na carreira de jornalista, trabalhando como repórter policial em A Manhã, um dos jornais fundados por seu pai, Mário Rodrigues, que marcaram época – o segundo foi Crítica, palco de uma tragédia que abalaria o dramaturgo profundamente: o assassinato de seu irmão, o ilustrador e pintor Roberto Rodrigues, em 1929.

Lado a lado com o teatro, o jornalismo foi para ele um ambiente privilegiado de expressão. Dentre seus textos propriamente jornalísticos, destacam-se aqueles dedicados ao futebol, em que empregou toda sua veia dramática, transformando partidas em batalhas épicas e jogadores em heróis. Trabalhou nos mais diversos jornais e revistas, assinando artigos e crônicas, como a popular e discutida coluna “A Vida Como Ela É…”.



Em 1943, a consagração no Teatro Municipal do Rio de Janeiro: sua segunda peça, Vestido de Noiva, montada por um grupo amador, Os Comediantes, dirigida pelo polonês recém-imigrado Ziembinski e com cenários de Tomás Santa Rosa, revolucionava a maneira de se fazer teatro no Brasil. Sua peça seguinte, Álbum de Família, de 1946, que trata de incesto, foi censurada, sendo liberada apenas duas décadas depois. Dali em diante, sua obra despertaria as mais variadas reações, nunca a indiferença.

O prestígio alcançado pelo reconhecimento de seu talento não livrou-o de contestações ou perseguições. Classificado pelo próprio Nelson Rodrigues como “desagradável”, seu teatro chocou plateias, provocando não apenas admiração, mas também repugnância e ódio, sentimentos muitas vezes alimentados por seu temperamento inclinado à polêmica e à autopromoção.

Nelson Rodrigues morreu no Rio de Janeiro, em 1980, aos 68 anos. Além dos romances, contos e crônicas, deixou como legado 17 peças que, vistas em conjunto, colocam-no entre os grandes nomes do teatro brasileiro e universal.