domingo, 28 de junho de 2020
quinta-feira, 25 de junho de 2020
terça-feira, 23 de junho de 2020
Tecnologia e Educação - Adauto Damásio
INTRODUÇÃO
As transformações tecnológicas
engendradas a partir do início da Terceira Revolução Industrial impactaram profundamente
a economia, a vida social, a cultura e
até as práticas políticas das
populações do planeta.
Na economia, verdadeiras revoluções disruptivas “assombram” a
humanidade desde a união entre os computadores e as telecomunicações, alterando
os paradigmas da indústria, do comércio e dos serviços. A robotização, com uso
da inteligência artificial, promove transformações radicais no mundo da
produção material.
Na vida social, a instantaneidade das comunicações promove, por um
lado, o “alargamento” das relações sociais humanas e, por outro lado, acelera o
processo narcísico do crescente individualismo.
Na cultura, para além do próprio narcisismo “em alta”, como traço
psicanalítico, todos os indivíduos passaram a ter voz pública, por meio das
mídias sociais. Tal fenômeno é rigorosamente inédito na história da humanidade.
Em 2020, ‘todos’ podem emitir suas opiniões sobre qualquer tema, mesmo que nada
conheça sobre ele (ECO, 2015).
Nas práticas políticas, os cidadãos passaram a ser organizar por meio
de mídias sociais digitais variadas, tais como Facebook, Whatsapp, entre outros. Para além de disputas ideológicas
entre grupos, o Estado se vê cada vez mais “acuado” diante da enfurecida “plebe”
pagadora de impostos. A partir da invenção das mídias sociais, lideranças
políticas populistas passaram a governar buscando a comunicação direta com as
“massas”.
Não se trata de fenômeno novo!
Transformações tecnológicas sempre fizeram parte da história da humanidade e elas
sempre resultaram em mudanças nas várias esferas da vida em grupo.
O ser humano, em suas várias
“versões” de hominídeos, habitam a Terra a 2,5 milhões de anos. A maior parte
desse tempo, os hominídeos viveram no período que se convencionou denominar de
Paleolítico, período no qual sequer as técnicas agrícolas tinham sido
inventadas.
No final desse período, por volta
de 100 mil anos atrás, os homens passaram a dominar e controlar o fogo com
eficiência. Essa, talvez tenha sido a primeira grande transformação tecnológica
criada pela espécie humana. Com o controle completo do fogo, os seres humanos
passaram a usá-lo para afastar animais perigosos, caçar esses mesmos animais,
proteger-se do frio, aquecer os alimentos, entre outras utilidades do
cotidiano. O controle e o domínio do fogo trouxe mais poder político e bélico
para os grupos que o dominaram.
Inúmeras outras transformações
tecnológicas poderiam ser citadas e explicadas, mas fugiria ao escopo da
presente atividade. Uma também notável invenção humana, que transformou a forma
de viver da espécie humana foi a agricultura, promovendo o sedentarismo, criando
as condições para a prática da domesticação dos animais, a criação dos
primeiros vilarejos, a invenção do comércio, o nascimento do próprio Estado e
das religiões. (BRAIDWOOD, 1982)
De qual forma tais transformações
tecnológicas alteraram a prática da educação na história da humanidade?
Na Pré-História, crianças e
jovens eram educados com objetivos práticos em função da luta pela
sobrevivência. Educação dizia respeito à transmitir a experiência para as
gerações seguintes. Na Antiguidade, oriental e ocidental (Egito Antigo, Grécia
e Roma, por exemplos), a invenção da escrita propiciou uma nova forma de
controle, do Estado, sobre as pessoas e sobre a produção, criando a necessidade
de que aprendizes dominassem a escrita como técnica (escribas). A Educação
tinha finalidades práticas. (LOMBARDO, 2017)
Mas foi somente a partir do final
do século XVIII, na Europa ocidental, que a Educação de crianças e jovens passou
a ser realizada em escolas. Outras experiências existiram antes disso, tais
como a Educação religiosa na Europa e nos Estados Unidos da América. Mas foi
somente a partir da Revolução Industrial que a massa de crianças e jovens
passou a ser objeto da disciplinarização dos comportamentos a partir do
paradigma fabril e do cientificismo que hegemonizou a cultura a partir de
então.
Assim, nascia um ‘formato’ de
escola que persiste em seu modelo arquitetônico e pedagógico até o século XXI,
baseado em formas de coerção psicológica, ensino de conteúdos científicos e com
seus pressupostos de disciplina. Dessa forma, a Educação tornou-se,
gradativamente mais formal e voltada para as necessidades das
contemporaneidades dominadas pela indústria fordista, pela ciência, pelo
protestantismo luterano e calvinista. (GRAY, 2015)
Porém, aparentemente, as
necessidades humanas mudaram. Como escrevemos no início desse introito, as
transformações tecnológicas trouxeram novos desafios para o mundo do trabalho e
da educação. Dentro desse contexto é que se inserem as discussões sobre o uso
de novas tecnologias na educação, bem como a definição de novos objetivos dos
processos educacionais.
DESENVOLVIMENTO
As transformações tecnológicas no
mundo da produção trouxeram uma nova realidade para os habitantes do planeta: caminhamos
para o que Hargreaves (2004) denomina “sociedade da aprendizagem”. Tal direção
está condicionada aos efeitos da revolução tecnológica potencializada pela
robotização, pela inteligência artificial e pela biotecnologia.
Assim, o autor produz a crítica
da organização escolar tradicional, com suas carteiras rigorosamente
enfileiradas, currículos padronizados e aulas canônicas, pois essa forma de
organização pode não favorecer o desenvolvimento de habilidades que a sociedade
contemporânea requer, quais sejam, práticas que promovam o trabalho coletivo,
incentivo à resolução de problemas e a disposição para a aprendizagem permanente.
Moran (2007) destaca a
necessidade de alteração do enfoque conteudista para o do incentivo à
construção do conhecimento e da interação. A proposta central é que o professor
seja um mediador entre o conhecimento e a efetiva aprendizagem dos alunos, por
meio do incentivo à participação no desvendamento dos processos de descoberta,
investigação e resolução de problemas.
Parametrizando conceitos, Moran salienta a necessidade
de diferenciar os conceitos de educação e ensino.
“Ensino e educação são conceitos
diferentes. No ensino organiza-se uma série de atividades didáticas para ajudar
os alunos a compreender áreas específicas do conhecimento (ciências, história,
matemática). Na educação o foco, além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida,
conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma visão de totalidade. Educar é
ajudar a integrar todas as dimensões da vida, a encontrar nosso caminho
intelectual, emocional, profissional, que nos realize e que contribua para
modificar a sociedade que temos.” (MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. 2000,
p. 12).
Segundo o autor, há mais preocupação com ensino de qualidade
do que com a educação de qualidade. Educação de qualidade seria um processo
mais amplo que envolveria a transformação da vida em processos permanentes de
aprendizagem e garantir autonomia intelectual para que os jovens construíssem
seus projetos de vida nos âmbitos de suas habilidades de compreensão, emoção e
comunicação, tornando-os cidadãos (p. 13).
Ainda segundo Moran, ensino de
qualidade compreende inovação, dinamismo, tecnologias acessíveis, professores
capacitados e com alunos motivados. Dessa forma, as Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação (TDICs) podem e devem ser utilizadas como ferramentas
integradas às práticas de ensino e aprendizagem.
O que seria, então, o pensamento? “Pensar é aprender a raciocinar, a organizar logicamente o discurso”; informações são processadas, de forma mais comum, pelo processamento lógico-sequencial que se expressa na linguagem falada e escrita. Mas existem várias outras formas de aprender a raciocinar e o autor as descreve com brevidade. Atualmente, processamos informações de forma multimídia,
“juntando pedaços de textos de várias linguagens
superpostas simultaneamente, que compõem um mosaico impressionista, na mesma
tela, e que se conectam com outras telas multimídia. A leitura é cada vez menos
sequencial. As conexões são tantas que o mais importante é a visão ou leitura
em flash, no conjunto, uma leitura rápida, que cria significações provisórias,
dando uma interpretação rápida para o todo, e que vai se completando com as
próximas telas, através do fio condutor da narrativa subjetiva: dos interesses
de cada um, das suas formas de perceber, sentir e relacionar-se.” (MORAN, J.
M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. 2000, pp. 23-24)
Dessa forma, surge a necessidade,
em função dessas novas tecnologias que impactam nas formas de aprender, de
incorporar as novas tecnologias ao processo instrucional e educativo.
O professor e a aprendizagem
Mas afinal, como se aprende? Para
Moran:
“Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos,
sentimos. Aprendemos quando descobrimos novas dimensões de significação que
antes se nos escapavam. Aprendemos quando equilibramos e integramos o
sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social. Aprendemos
pelo pensamento divergente, por meio da tensão, da busca, e pela convergência -
pela organização, pela integração. Aprendemos pela concentração em temas ou
objetivos definidos ou pela atenção difusa, quando estamos de antenas ligadas,
atentos ao que acontece ao nosso lado. Aprendemos quando perguntamos,
questionamos. Aprendemos quando interagimos com os outros e o mundo e depois,
quando interiorizamos, quando nos voltamos para dentro, fazendo nossa própria
síntese, nosso reencontro do mundo exterior com a nossa reelaboração pessoal.
Aprendemos pelo interesse, pela necessidade. Aprendemos pela criação de hábitos,
pela automatização de processos, pela repetição. Aprendemos pela credibilidade
que alguém nos merece. Aprendemos pelo prazer, porque gostamos de um assunto,
de uma mídia, de uma pessoa. Aprendemos mais, quando conseguimos juntar todos
os fatores: temos interesse, motivação clara. Aprendemos realmente quando
conseguimos transformar nossa vida em um processo permanente, paciente,
confiante e afetuoso de aprendizagem.” (MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS,
M. 2000, pp. 23-24).
O autor busca circunscrever todas
as formas de aprender, atentando para fatores causais que se estendem desde as
necessidades práticas da vida até os de empatia com aquele que ensina,
finalizando com a busca do processo permanente de aprendizagem ao longo de toda
a vida.
Nesse caminho de repensar a
educação, a didática, o ensino e a aprendizagem, uma outra questão se projeta
de forma extremamente pertinente: o papel do professor no processo de
aprendizagem.
Dentre as características do
professor, uma deve ser destacada: “o professor é um pesquisador em serviço.” O
professor deve aprender no processo de ensino. Entre os papeis fundamentais do
professor, destacam-se o de ser orientador/mediador intelectual,
orientador/mediador emocional, orientador/mediador gerencial e comunicacional e
orientador ético. (MORAN, J.
M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. 2000, pp. 30-31).
As novas tecnologias, oriundas da
revolução tecnológica desse início do século XXI, insere o desafio para que
profissionais da educação direcionem seus radares para uma educação que seja
mediada também pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação.
Observo que há uma tendência de
generalização dos discursos sobre o uso das novas tecnologias na educação. Várias
nuances devem ser inseridas nesse
debate. Destaco duas.
Em primeiro lugar, não verifico
uma avaliação rigorosa, lastreada em pesquisas científicas, entre performance de aprendizagem e uso de
novas tecnologias educacionais. Claro e evidente que os novos rumos
tecnológicos “experienciados” no planeta demandam uma aproximação necessária
entre educação, ensino, aprendizagem e todas as novas Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação (TDICs). Não estarei eu aqui negligenciando tal
necessidade. Porém, é preciso medir! Faz-se necessário que existam pesquisas científicas
que comprovem a eficácia e, eventualmente, resultados de performance superiores
das metodologias ativas com uso das TDICs.
Em segundo lugar, é essencial que
os pesquisadores acadêmicos passem a segmentar suas pesquisas em função do nível educacional e das faixas etárias às quais se referem. Quais são os
estímulos a serem proporcionados às crianças na faixa etária entre 3 e 5 anos
com auxílio das TDICs? Não sei. Talvez nenhum. No Ensino Médio, a despeito de
já haver promissoras experiências no processo de ensino aprendizagem de
matemática com auxílio das TDICs, há que se perguntar quais são suas aplicações
na literatura ou nas artes.
Estamos no início do processo de
incorporação das TDICs na educação, no ensino e na aprendizagem. Precisamos
refinar e lapidar esse debate.
Novas tecnologias, educação, ensino e desenvolvimento de habilidades
A primeira aproximação sobre o
tema do uso das TDICs na educação deve considerar a necessidade de
desenvolvimento, nos alunos, de competências e habilidades.
“Perrenoud (2009) afirma que a competência pode ser traduzida na
capacidade de agir eficazmente perante um determinado tipo de situação, apoiada
em conhecimentos, mas não limitada a eles. Esse conceito é mais amplo do que o
de habilidade, caracterizado como capacidade que uma pessoa adquire para
desempenhar determinado papel ou função. A competência pode ser definida como
junção e coordenação das habilidades com conhecimentos e atitudes.” (Netto,
2017)
Ou seja, o uso das TDICs devem
levar em consideração esses objetivos: desenvolvimento, nos alunos, de
competências e habilidades. Tais competências e habilidades podem ser mapeadas
a partir de três grandes categorias, como a seguir.
Fonte: https://blog.elos.vc/competencias-e-habilidades-do-seculo-21/
O domínio
cognitivo refere-se ao pensamento racional, estendendo-se à linguagem, escrita,
analise, entre tantos outros, o domínio intrapessoal refere-se à gestão das
emoções e o domínio interpessoal remete às formas de relacionamento social,
como fica evidente na imagem anterior.
Todo o trabalho
para o desenvolvimento dessas competências e habilidades é humano. As TDICs podem
(e devem) auxiliar nessa tarefa. É o trabalho humano (docente) que pode
oferecer relevância ao uso das TIDCs no sentido de criar, nos alunos, a
aprendizagem significativa.
Aprendizagem
significativa é um conceito desenvolvido pelo pensador David Ausubel. O
conceito de aprendizagem significativa remete a um
“processo
pelo qual uma nova informação se relaciona com a estrutura de conhecimento de
um indivíduo. Conforme apresenta Moreira (1999), a aprendizagem significativa
ocorre quando uma nova informação se ancora em conceitos relevantes
(subsunçores) preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Ausubel define
estruturas cognitivas como estruturas hierárquicas de conceitos que são
representações de experiências sensoriais do indivíduo. A ocorrência da
aprendizagem significativa implica o crescimento e a modificação do conceito
subsunçor.” (Netto, 2017)
Dessa forma, a organização de mapas conceituais pode ser uma estratégia de muito sucesso na facilitação da aprendizagem significativa. O mapa conceitual organiza o pensamento e possibilita hierarquizar conceitos centrais, periféricos e processos. As TIDCs podem ser usadas nesse processo, pois há várias ferramentas online que permitem a construção dos mapas conceituais. Por exemplo, temos GoConqr, que pode ser acessado no link https://www.goconqr.com. Abaixo, um exemplo de um mapa conceitual feito nessa plataforma.
Dessa forma, sim: as TDICs podem e devem ser utilizadas para aperfeiçoar e, eventualmente, revolucionar a educação, o ensino e a aprendizagem.
Conclusão
Como conclusão,
podemos afirmar que as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs)
são importantes, considerando sua contemporaneidade. Os seres humanos, ao longo
da sua história, construíram as mais variadas ferramentas, do arco e flecha ao
computador; são ferramentas, apenas!
Tais ferramentas
contemporâneas não são revolucionárias per
si. Elas são revolucionárias quando utilizadas com competência didática e
pedagógica para alcançar objetivos traçados em função das necessidades humanas.
Como
apresentado, Ausubel propõe que educação e ensino objetivem a aprendizagem significativa. Se as ferramentas
tecnológicas auxiliam nesse processo de ensino, devemos utilizá-las. Mas
lembremos: o arco e a flecha não tinham (como não tem até hoje) uma existência
desconectada de sua função ontológica.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRAIDWOOD,
Robert, 1982. Homens Pré-históricos.
Brasília: Editora da UNB.
CLASTRES,
Pierre, 1982. A Sociedade Contra o
Estado. Rio de Janeiro: Ed. Francisco Alves.
ECO, HUMBERTO,
2015. Redes sociais deram voz a legião
de imbecis, diz Umberto Eco. Disponível em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2015/06/11/redes-sociais-deram-voz-a-legiao-de-imbecis-diz-umberto-eco.jhtm.
Acesso em 26/02/2020.
Ensino adaptativo: entenda como a
tecnologia pode facilitar o aprendizado. s/d. Disponível em
https://www.escolaweb.com.br/blog/tecnologias-para-educacao/ensino-adaptativo-entenda-como-a-tecnologia-pode-facilitar-o-aprendizado/.
Acesso em 29/12/2019.
GRAY, P, 2015. Uma breve história da educação e da escola.
Disponível em https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/12/22/uma-breve-historia-da-educacao-e-da-escola/.
Acesso em 27/02/2020.
HARGREAVES, Andy (2004). Ensino na Sociedade do Conhecimento.
Porto: Porto Editora.
LÉVY, P. Os benefícios das
ferramentas virtuais para o ensino. 2013. Revista Gestão Educacional, abril
de 2013. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/294992441/Pierre-Levy.
Acesso em 29/12/2019.
LOMBARDO, L. (2017). Como
fazíamos sem professor? Disponível em https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/como-faziamos-professor-473340.phtml.
Acesso em 26/02/2020.
MORAN, J. 2000. Mudar a forma de
ensinar e aprender com tecnologias. Interações, Vol. V, núm. 9, jan-jun,
pp. 57-72. Universidade São Marcos. São Paulo, Brasil.
MORAN, J. 2015. Mudando a
educação com metodologias ativas. Coleção Mídias Contemporâneas.
Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Vol. II]
Carlos Alberto de Souza e Ofelia Elisa Torres Morales (orgs.) .
MORAN, J. M.; MASETTO,
M. T.; BEHRENS, M. 2010. Novas
tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus.
MOREIRA, M. A., 1999. Aprendizagem
significativa. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
segunda-feira, 22 de junho de 2020
Ensino Híbrido - José Moran
domingo, 21 de junho de 2020
Educação e Aprendizagem: um exemplo.
Publicado em 03/01/2020
A cada duas crianças de 10 anos vivendo em países em desenvolvimento, uma não entende o que lê. Esse problema, definido como pobreza na aprendizagem, é uma realidade tanto na América Latina e Caribe (onde o percentual de crianças impactadas é de 51%) quanto global (53%).
Tal cenário dá origem à crise do aprendizado: embora se reconheça que há maior cobertura educacional, a qualidade do ensino não é suficiente. Diante disso, projetos educacionais como o de Sobral (CE) mostram que, quando se quer melhorar, se pode. Leia a reportagem do Banco Mundial.
A cada duas crianças de 10 anos vivendo em países em desenvolvimento, uma não entende o que lê. Esse problema, definido como pobreza na aprendizagem, é uma realidade tanto na América Latina e Caribe (onde o percentual de crianças impactadas é de 51%) quanto global (53%).
Tal cenário dá origem à crise do aprendizado: embora se reconheça que há maior cobertura educacional, a qualidade do ensino não é suficiente. Diante disso, projetos educacionais como o de Sobral (CE) mostram que, quando se quer melhorar, se pode.
Sobral tem cerca de 208 mil habitantes. Em 2005, a cidade ficou em 1366º lugar nacional no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Dez anos depois, alcançou o primeiro lugar nessa mesma avaliação e nunca mais saiu.
Como conseguiu isso?
Ivo Ferreira Gomes, atual prefeito de Sobral e que antes desse cargo foi secretário de Educação do município, compartilhou com orgulho e emoção os principais marcos do trabalho educacional que vem sendo realizado há alguns anos.
Leia abaixo a entrevista.
O que aconteceu em Sobral? Como o município alcançou esses resultados no aprendizado infantil?
O processo de mudança começou 22 anos atrás. Desde 1997, a educação tem sido nosso principal patrimônio. Decidimos que todas as crianças do município teriam acesso à educação, pois à época 30% de crianças e adolescentes não tinham acesso ao sistema escolar. E conseguimos, investimos tudo o que foi necessário em infraestrutura, em novos edifícios, em tudo o que o dinheiro poderia comprar.
Depois de quatro anos, estávamos felizes, pensávamos que tínhamos sucesso, tínhamos todas as crianças e adolescentes da escola, além de novas instalações e equipamentos. Contratamos uma avaliação de aprendizado para saber como os alunos estavam e, quando os resultados chegaram, foi um grande choque para nós. Pensávamos que estávamos indo muito bem e, na verdade, o que fizemos era necessário, mas não o suficiente para ter boas escolas.
A pesquisa mostrou que mais da metade dos alunos, da pré-escola ao ensino médio, não sabia ler um parágrafo simples. Também percebemos que os professores não eram treinados para ensinar a ler, porque não estavam preparados para isso. Naquela época, a academia pensava que isso era normal porque os estudantes vinham de bairros muito pobres. Tínhamos a intuição de que todos poderiam aprender independentemente de sua origem socioeconômica, algo comprovado mais tarde. Hoje, essas mesmas pessoas pobres estão no primeiro lugar da avaliação nacional de aprendizagem.
Qual metodologia você usou?
Começamos a mostrar aos professores como ensinar as crianças a ler, porque isso não é fácil, não é um instinto. É uma criação, um treinamento humano. É necessário ter objetivos para que cada criança possa ler pequenas histórias aos 7 anos de idade. Esse é o nosso critério para definir que uma criança consegue ler e entender. Para isso, as avaliamos a cada semestre. É um trabalho árduo, mas necessário e agora faz parte da rotina.
Durante a avaliação, colocamos os alunos para ler uma palavra, depois uma frase, um parágrafo e uma pequena história com perguntas de interpretação. Enquanto isso, as gravamos. Dessa forma, podemos garantir que eles entendam, porque se você não entende a mensagem do texto, não aprende. Também medimos a velocidade de leitura. Para entender a mensagem, você deve ler a uma certa velocidade, certa quantidade de palavras por minuto, porque se você não tiver uma certa velocidade, estará mais focado em juntar as palavras e não na própria mensagem.
Quando as crianças não passam na avaliação, são enviadas para aulas extras no período da tarde na mesma escola; cada criança recebe tratamento individual, pois tem necessidades diferentes. Precisamos saber se algo está acontecendo em casa, se eles têm alguma necessidade clínica, talvez precisem de óculos ou tenham um problema de aprendizagem. Essa é uma das principais responsabilidades em Sobral. Tratamos cada criança como um sujeito de direito.
Quem foi fundamental para alcançar o sucesso desse programa?
O governo, os professores, os pais, porque não há boa educação sem os pais. Existem algumas condições que estão fora do controle da escola, por exemplo, os pais podem garantir que as crianças vão à escola todos os dias, cheguem pontualmente, façam a lição de casa. Sobral construiu um relacionamento muito forte com os pais. Dissemos a eles: se você ama seus filhos, isso significa que serão bem-sucedidos na escola. Portanto, você tem responsabilidades a assumir e isso tornou os pais muito próximos das escolas e dos diretores.
Também fomos ajudados por organizações sociais nacionais e internacionais em relação a instrumentos de medição e avaliações. Elas também nos alertaram, por exemplo, sobre o que eles não estavam aprendendo ou que certas crianças não eram capazes de ler.
Você nos falou sobre os diferentes responsáveis por levar as crianças às escolas e que eles são capazes de ler e entender as leituras aos 7 anos. Mas qual foi a parte crucial dessa conquista?
Professores. Eles são o ativo mais importante, estão no centro do sistema educacional, são fundamentais. Sem professores felizes, amorosos e bem preparados, não teremos uma boa educação. Temos que fazer todo o possível para gerar um contexto apropriado ao ensino para eles. Temos um programa permanente para ensinar os professores diariamente: existe uma escola de ensino em Sobral para os professores. Eles dedicam 20% do seu tempo semanal para se requalificar, recebem informações atualizadas e ganham dinheiro extra pelos resultados alcançados no fim do ano com os alunos.
O reconhecimento que obtiveram da sociedade, do governo, da mídia e das crianças elevou sua autoestima e isso foi mais importante para eles do que o dinheiro extra que podem receber. Orgulham-se de seu trabalho.
Quando uma criança abandona a escola, seu futuro é incerto. Por isso, é importante garantir que cada criança possa aprender, tendo o ambiente apropriado, um bom professor e alguém para cuidar dele.
Fonte: https://nacoesunidas.org/sobral-ce-ocupa-primeiro-lugar-no-indice-de-desenvolvimento-da-educacao-basica/,
acesso em 21/06/2020
O PARADOXO DE NELSON RODRIGUES | Priscila Gontijo
Biografia de Nelson Rodrigues
Dramaturgo, nascido no Recife e criado no Rio de Janeiro, deixou legado de 17 peças, além de romances, contos e crônicas
Por André Gomes
Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, em 1912. Aos 5 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar na Rua Alegre, em Aldeia Campista, bairro que depois seria absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã, Tijuca e Vila Isabel. Em contato com a imaginação fértil do futuro escritor, a realidade da Zona Norte carioca, com suas tensões morais e sociais, serviu como fonte de inspiração para Nelson construir personagens memoráveis e histórias carregadas de lirismo trágico.
Aos 13 anos, ingressa na carreira de jornalista, trabalhando como repórter policial em A Manhã, um dos jornais fundados por seu pai, Mário Rodrigues, que marcaram época – o segundo foi Crítica, palco de uma tragédia que abalaria o dramaturgo profundamente: o assassinato de seu irmão, o ilustrador e pintor Roberto Rodrigues, em 1929.
Lado a lado com o teatro, o jornalismo foi para ele um ambiente privilegiado de expressão. Dentre seus textos propriamente jornalísticos, destacam-se aqueles dedicados ao futebol, em que empregou toda sua veia dramática, transformando partidas em batalhas épicas e jogadores em heróis. Trabalhou nos mais diversos jornais e revistas, assinando artigos e crônicas, como a popular e discutida coluna “A Vida Como Ela É…”.
Em 1943, a consagração no Teatro Municipal do Rio de Janeiro: sua segunda peça, Vestido de Noiva, montada por um grupo amador, Os Comediantes, dirigida pelo polonês recém-imigrado Ziembinski e com cenários de Tomás Santa Rosa, revolucionava a maneira de se fazer teatro no Brasil. Sua peça seguinte, Álbum de Família, de 1946, que trata de incesto, foi censurada, sendo liberada apenas duas décadas depois. Dali em diante, sua obra despertaria as mais variadas reações, nunca a indiferença.
O prestígio alcançado pelo reconhecimento de seu talento não livrou-o de contestações ou perseguições. Classificado pelo próprio Nelson Rodrigues como “desagradável”, seu teatro chocou plateias, provocando não apenas admiração, mas também repugnância e ódio, sentimentos muitas vezes alimentados por seu temperamento inclinado à polêmica e à autopromoção.
Nelson Rodrigues morreu no Rio de Janeiro, em 1980, aos 68 anos. Além dos romances, contos e crônicas, deixou como legado 17 peças que, vistas em conjunto, colocam-no entre os grandes nomes do teatro brasileiro e universal.
sábado, 20 de junho de 2020
NATUREZA HUMANA EM KANT - Daniel Omar Perez
sexta-feira, 19 de junho de 2020
Biografia de Gardo Baquaqua é a única escrita por um escravo no Brasil
A obra revela facetas inusitadas da história do país e sai no país 163 anos depois de sua primeira edição
Lourenço Cazarré - Especial para o Correio
09/09/2017
Exatamente
163 anos depois de sua primeira edição em inglês, sai agora no Brasil A
biografia de Mahommah Gardo Baquaqua, um nativo de Zoogoo, no interior da
África. Trata-se de uma publicação singela da Uirapuru Editora, mas que é
extremamente relevante porque se trata do único livro escrito (no caso, ditado)
por alguém que foi escravo no Brasil. Em apenas 80 páginas, estão resumidos —
por um homem que falava um inglês “de maneira imperfeita” — o horror do tráfico
e da escravidão.
A vida de Baquaqua foi muito movimentada. Ele nasceu em meados da década de 1820 no atual Benin, foi trazido como escravo ao Brasil, seguindo depois para Estados Unidos, Haiti, Canadá e Inglaterra, onde desapareceu em 1857, quando tentava obter ajuda para voltar à África, na condição de pregador batista, para conduzir seus irmãos à verdadeira fé, a fé em Cristo que ele abraçara no Haiti.
Seu pai era de ascendência árabe, fé islâmica, “e não possuía compleição escura”. Sua mãe era “completamente negra”. Baquaqua teve uma infância feliz na luxuriante natureza africana, que ele descreve com carinho e acuidade..
A escravidão, praticada há séculos na África, era terrível, conta ele. Mas “não era nada” se comparada àquela nova modalidade em que as pessoas eram arrancadas de sua terra, conduzidas até o litoral, “trocadas por rum, tabaco e outras mercadorias” e transportadas em navios para países distantes.
“Na África, as guerras são frequentes”, registra. Depois de um combate, Baquaqua — que ainda muito jovem havia se transformado em ajudante de um rei — foi aprisionado pela primeira vez. Teve sorte de ser liberto por sua mãe, que pagou um resgate por ele. Feito prisioneiro em outra guerra, pouco depois, foi levado em direção ao litoral. “Colocaram uma corda em meu pescoço”. Na cabeça, carregava o saco dos grãos com os quais se alimentava. A viagem seguia, dia após dia, penosamente. Ao cansaço juntava-se o medo de ser devorado pelos grandes felinos nas áreas de capim alto. De noite, acendiam fogueiras.
Agonia no porão
No caminho, via laranjas pela primeira vez. Assombrou-se diante da residência de um rei que era “ornamentada em seu exterior com crânios humanos”. Os cativos chegaram à beira do mar. “Ali estavam escravos de todas as partes do país”. Eram marcados a ferro quente, “como faziam com as tampas de barril ou qualquer outro bem ou mercadoria inanimada”. Começaram a ser levados ao navio negreiro. Mas o vento estava forte e o mar, muito agitado. Uma das canoas virou. “Cerca de trinta pessoas morreram”.
Os escravos foram enfiados no porão. “Oh! A repugnância e a sujeira daquele lugar nunca serão apagados da minha memória”. Um irônico Baquaqua diz então que “os indivíduos humanitários” que apoiavam a escravidão certamente mudariam de ideia “ao tomar o lugar do escravo no porão pernicioso de um navio negreiro por apenas uma viagem da África à América”. Só há um lugar pior que um porão de navio tumbeiro, adverte. É o inferno.
Baquaqua desembarcou em Pernambuco. “Quando um navio negreiro aporta, a notícia se espalha como as chamas do fogo.” Acorrem os interessados na “mercadoria viva”. Os escravos são exibidos como “bois ou cavalos” em um mercado. Nosso biografado foi vendido a um padeiro português que tinha quatro outros escravos. Na casa desse católico fervoroso, havia dois cultos por dia.
Os escravos tinham de fazer o sinal da cruz inúmeras vezes e pronunciar “palavras das quais não conhecíamos o significado”. A desatenção e a sonolência eram desaconselhadas pela aplicação do açoite. Baquaqua vendia pão nas ruas. Trabalhava até as nove da noite. Em geral, vendia bem. Mas, se, por acaso, o faturamento caía, a punição vinha logo. “O chicote era o meu destino.”
Incontáveis espancamentos depois, considerado um “caso difícil”, o cativo foi revendido para um capitão de navio. Sua tarefa era limpar facas e garfos e polir as peças de bronze. Também cuidava da dispensa e levava as provisões ao cozinheiro. A primeira viagem foi para o Rio Grande do Sul. Trocaram a carga por carne seca e rumaram para o Rio de Janeiro. Foram depois a Santa Catarina em busca de farinha, que negociavam no Rio Grande do Sul por óleo de baleia. Retornaram ao Rio de Janeiro, onde embarcavam sacas de café para Nova Iorque. No trajeto, Baquaqua foi espancado pelo capitão, que “batia de forma aleatória em minha cabeça”. Três marinheiros se juntam ao capitão na tortura. “Foram ordenados a me chicotear, o que fizeram com muito zelo.”
Em Nova Iorque, depois de incontáveis peripécias, Baquaqua foi levado à Prefeitura de cidade. De lá foi retirado por pessoas engajadas na luta contra a escravidão. Libertado, foi enviado a Boston, onde lhe ofereceram a oportunidade de emigrar. Para a Inglaterra ou o Haiti? Achava que o clima do Haiti, similar ao da África, lhe seria mais propício. E nem tinha ideia de como seria a Inglaterra. Vai, então, para o Haiti, onde permaneceu por dois anos. “Não sabia falar uma palavra da língua daquele povo e, o pior de tudo, não possuía sequer uma moeda para comprar nem mesmo um pão velho para saciar minha fome.”
No Haiti, o africano conheceu um missionário da igreja batista americana, o pastor Judd, que o acolheu e depois consegue que ele fosse enviado de volta aos Estados Unidos. Seguiu viagem “com violentas tempestades por quase todo o caminho”. Foi então para o Central de College, em McGraville, instituição de ensino fundada por antiescravagistas. Estudou lá por três anos (1850-1853). Em Boston, dita a Samuel Moore sua história, que foi publicada em 1854. Três anos depois, já na Grã Bretanha, some sem deixar rastros. Estaria com cerca de 33 anos.
Lourenço Cazarré é escritor
A biografia de Mahommah Gardo Baquaqua
Um nativo de
Zoogoo, no interior da África, Editora Uirapuru, 80 páginas
Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/09/09/interna_diversao_arte,624508/biografia-de-gardo-baquaqua-e-a-unica-escrita-por-um-escravo-no-brasil.shtml,
acesso em 19/06/2020
quinta-feira, 18 de junho de 2020
B.B. King: a lenda do blues
Incansável,
B.B. King levou o blues ao grande público
15 maio 2015
Quando o ônibus
estacionou em frente à casa de shows, B.B. King deu uma bronca no motorista por
tê-lo trazido ao local errado. Afinal, ele só podia ver brancos na fila de
entrada.
O ano era 1968, e embora os Estados Unidos tivessem proibido a
segregação racial quatro anos antes, a situação estava longe de ser harmoniosa.
O músico perdera a conta de quantas vezes tinha sofrido discriminações pessoais
e profissionais.
Mas
aquele concerto, no Fillmore West, em San Francisco, ficou marcado pelos longos
aplausos de pé que a plateia predominantemente branca deu a B.B. King.
Incêndio
Ídolo
de gerações de músicos, e influência seminal na carreira de músicos como Eric
Clapton, Stevie Ray Vaughan e os Rolling Stones, B.B. King morreu na madrugada
desta sexta-feira, em Las Vegas, aos 89 anos. Segundo um porta-voz, o
guitarrista, que tinha sido internado havia algumas semanas por complicações
decorrentes da diabetes, morreu durante o sono.
"Figurinha fácil" nas listas de maiores guitarristas
da história publicadas por revistas especializadas em música, B.B. King nasceu
Riley B. King, em Indianola, no Estado americano do Mississippi, em setembro de
1925. Filho de lavradores, ele passou parte de sua infância trabalhando em
plantações de algodão para ajudar os pais.
Eram
tempos duros, mas foi nas plantações que o então menino ouviu pela primeira vez
as canções de blues entoadas por trabalhadores rurais mais velhos. O gênero
musical que B.B. King ajudaria a levar de uma audiência puramente negra para um
grande público.
Como muitos músicos do sul dos Estados Unidos, B.B. King
aperfeiçoou sua técnica musical tocando em igrejas, mas em 1947 ele tomou o
rumo de Memphis, tocando na rua em troca de gorjetas até conseguir um emprego
como disc-jóquei na estação de rádio WDIA.
Seu
pseudônimo surgiria de uma mistura de seu nome real com o apelido Beale Street
Blues Boy, que faz referência à uma famosa rua boêmia de Memphis. Mas sua
reputação como guitarrista também cresceu no circuito da bares de blues da
cidade.
Foi
num desses shows que B.B. King por pouco não morreu, durante um incêndio
causado por um briga de bar: ele voltou para dentro do prédio em chamas quando
percebeu que tinha deixado por lá sua guitarra Gibson L-30. O instrumento
depois foi rebatizado com o nome da mulher que tinha sido o pivô da confusão,
Lucille.
"Quase morri tentando salvar minha guitarra. Pus o nome de
Lucille nela para me lembrar de nunca mais fazer algo parecido", brincou
B.B. King, numa entrevista publicada para o site do fabricante da guitarra,
publicada no ano passado.
Segregação
Em 1949, o guitarrista lançou seu primeiro álbum e, dois anos depois, chegava pela primeira vez ao topo das paradas de blues com o single Three O'Clock Blues, que ficou no posto de número um por 17 semanas.
Muitas
de suas primeiras gravações foram produzidas por Sam Phillips, o fundador da
Sun Records, a legendária gravadora que lançaria nomes como Elvis Presley e
Johnny Cash.
"Aguentei mais humilhação do que consigo me lembrar",
contou King. "Sair em turnê pela América segregada e toda hora ser
incomodado por policiais brancos foi algo que me machucou".
Nos anos 60, o sucesso de bandas britânicas como os Rolling Stones, Yarbirds e os Animals, influenciadas por bluesmen como B.B. King e Muddy Waters, levaram o blues para uma audiência mais generalizada.
Mas o apelo de B.B. King transcendeu o blues: em 2000, por exemplo, ele gravou com o U2 a música When Love Comes to Town. Ele jamais parou de fazer turnês, mesmo quando chegou aos 80 anos, e se apresentou várias vezes no Brasil.
Uma
vez perguntado sobre a razão de insistir no longo calendário de shows, B.B.
King afirmou que era simplesmente uma questão de devoção a sua arte.
"Aposentadoria?
Nunca vou usar essa palavra".
Fonte: BBC News.
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/05/150515_bbking_obituario_fd,
acesso em 18/06/2020
quarta-feira, 17 de junho de 2020
NINA SIMONE (1933-2003)
Além de se destacar por sua bela voz, Nina Simone estudou piano clássico e era exímia no instrumento.
Nina Simone se destacou por suas interpretações
de clássicos como I Loves You Porgy, da ópera Porgy and
Bess, de George Gershwin, My Baby Just Cares for Me e I
Put a Spell on You, de Screamin' Jay Hawkins.
Após
ter deixado os Estados Unidos, alegando desilusão com as companhias de discos e
com o racismo americano, Simone passou a cantar em diversas línguas e a se
apresentar com artistas de diferentes países, inclusive com a brasileira Maria
Bethânia, em 1990.
Militante
Após o exílio auto-imposto, a artista passou por
Barbados, Libéria e Holanda, até se estabelecer no sul da França.
A
cantora também teve importante papel no movimento de direitos civis da
comunidade negra americana, tendo interpretado músicas relativas ao tema,
como Why? The
King of Love is Dead,
sobre o assassinato de Martin Luther King.
Ela
também interpretou diversas canções de nomes da música pop, como Suzanne,
de Leonard Cohen, My Sweet Lord e Isn't It a Pitty,
ambas de George Harrison, e participou da ópera-rock Iron Man, de
Pete Towshend.
Nina
Simone, cujo nome verdadeiro era Eunice Waymon, nasceu em 21 de fevereiro de
1933 na cidade de Tyron, no Estado americano da Carolina do Norte, em uma
família pobre.
Seu
nome artístico foi uma homenagem à atriz francesa Simone Signoret.
Fonte:
BBC Brasil, disponível em https://www.bbc.com/portuguese/cultura/030421_ninabg.shtml
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